sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Eletronuclear vai investir nas usinas nucleares brasileiras R$ 300 milhões

Plano da Eletronuclear para Angra 1, 2 e 3 prevê nova avaliação de encostas, altura de ondas e intensidade de chuvas

As ações pós-Fukushima da Eletronuclear para as três usinas nucleares brasileiras - Angra 1, 2 e 3, que ainda não começou a operar - já estão definidas num plano de investimentos de R$ 300 milhões para os próximos cinco anos. O trabalho é resultado de estudos que tiveram início logo após o acidente nuclear no Japão. Um dos pontos contemplados é a contratação de uma consultoria externa para reavaliar o serviço de monitoramento das encostas no entorno do complexo nuclear de Angra dos Reis. Uma série de reportagens do GLOBO, publicada em março deste ano , mostrou que, a exemplo da usina japonesa, atingida por um terremoto e uma tsunami de proporções inimagináveis, a maior vulnerabilidade das usinas de Angra seria um evento atípico atingir as encostas da região, cercada por montanhas.
A consultoria deverá analisar até a hipótese de as estruturas e os sistemas de segurança já implantados pela Eletronuclear sofrerem um forte abalo, que chegasse a provocar a ruptura total das encostas. O objetivo é testar ao máximo a confiabilidade do monitoramento feito atualmente. Em 1985, fortes chuvas causaram um deslizamento que soterrou o Laboratório de Radioecologia da Eletronuclear, quase fechando a saída de água da refrigeração de Angra 1.
Além das encostas, o plano vai checar os sistemas de segurança para outros riscos naturais, como ondas gigantes, por exemplo. A ideia é monitorar o movimento do mar. Hoje, as instalações estão aptas a suportar ondas de até quatro metros de altura, mas será avaliado se é preciso aumentar o nível de proteção.
Cnen avaliará plano da Eletronuclear 
A intensidade das chuvas que podem cair no local, assim como a capacidade de drenagem, também será reavaliada para impedir inundações. Simulações mostram que os canais de drenagem da central nuclear funcionam muito bem no caso da pior chuva em mil anos e, se for a pior em 10 mil anos, há extravasamento, mas a água não chega a invadir os prédios, ou seja, o espelho d'água fica abaixo do nível de entrada dos edifícios.
A Eletronuclear pretende ampliar esse estudo para verificar se é necessário aumentar a capacidade de drenagem dos canais ou alterar a soleira de entrada dos prédios. Por último, também devem ser contratados estudos para atualizar os registros sísmicos da região para afastar qualquer risco de terremotos.
O plano será submetido à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), responsável pela fiscalização das usinas, que poderá fazer outras exigências.
- Nós temos muita confiança no plano proposto porque, em linhas gerais, estamos seguindo o que está se fazendo na Europa, nos EUA - afirma o assessor técnico da direção da Eletronuclear, Paulo Carneiro. - Embora o prazo de implantação seja de cinco anos, uma grande parte estará concluída dentro de três anos.
Hidrelétrica poderá ser fonte extra de energia 
O plano também prevê ações para reduzir os impactos de um eventual acidente. Entre elas, vale destacar estudo para a implantação de uma pequena central hidrelétrica, na região de Angra dos Reis, para manter as usinas em funcionamento em caso de perda total dos 12 geradores a diesel já existentes, hipótese improvável, mas que ocorreu no Japão devido à catástrofe natural inédita.
Os custos da hidrelétrica, que ainda não estão contabilizados no orçamento do plano, ainda serão estimados. Paulo Carneiro explica que a ideia é criar quatro níveis de estágios de fornecimento de energia, que podem ser acionados de acordo com a necessidade:
- A primeira fonte seria a energia externa, à qual a central está ligada. A segunda, os geradores a diesel que já existem dentro das usinas. A terceira, grupos de geradores a diesel independentes (que ficariam em prédios diferentes dos das usinas ou em local mais alto), e a quarta uma hidrelétrica que também poderia ser uma fonte de fornecimento de água alternativa - observa Carneiro.
O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, diz que as ações da Eletronuclear seguem a orientação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para que todos os países adotem medidas para aprimorar a segurança de suas usinas para que Fukushima não se repita.
- Tudo vai depender do histórico do lugar em que as usinas estão instaladas. De acordo com cada caso, estão sendo feitas reanálises da intensidade de terremotos e de proteções contra tsunamis, por exemplo. Também estão sendo pensados sistemas de fornecimento de energia de emergência que possam entrar em ação se a rede da usina tiver problemas - explica Kuramoto. - Precisamos saber se as usinas estão suscetíveis a acidentes além da base do projeto, que foi o que aconteceu em Fukushima, que enfrentou uma tsunami muito acima de sua capacidade. Estava preparada para ondas de 5,7 metros, mas não para de 14 metros, como aconteceu.
Uma outra frente do plano vai se debruçar sobre o programa de evacuação da população das áreas urbanas próximas das usinas, em caso de acidente. Hoje a única alternativa de fuga é a Rio-Santos. Está sendo avaliada a construção de quatro píeres (Mambucaba, Praia Vermelha, Praia Brava e Frade) e ainda quadras poliesportivas que possam servir como heliportos, dentro da Zona de Planejamento de Emergência. Além disso, nos dias 31 deste mês e 1 de setembro será realizada uma simulação do Plano de Emergência, em Angra, pela primeira vez em dois dias, que envolverá Defesa Civil, Forças Armadas, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e o gabinete de segurança institucional da Presidência da República.

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