sábado, 11 de fevereiro de 2012

Greve da segurança pública no Rio põe imagem de Sérgio Cabral em questão


O processo de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em comunidades antes dominadas pelo tráfico de drogas é uma das grandes bandeiras do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. A antes inimaginável retomada do Complexo do Alemão e da Favela da Rocinha, bastiões do crime organizado no estado, ajudaram a impulsionar a popularidade de Cabral e a fortalecer sua influência no cenário nacional. Entretanto, apesar de sua representatividade, as forças de segurança pública não se mostram satisfeitas com o tratamento recebido do governo. A greve iniciada nesta sexta-feira por bombeiros, policiais civis e PMs é a segunda revolta em menos de um ano. Em 2011, bombeiros que lutavam por melhores condições de trabalho fizeram um movimento amplamente apoiado pela população. Diante deste cenário, fica a dúvida sobre até que ponto esta insatisfação pode provocar uma grave crise na administração pública fluminense.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que recomendou o indiciamento de 235 pessoas ligadas a grupos paramilitares quando presidiu a CPI das Milícias na Alerj, considera justa a reivindicação dos grevistas, mas não concorda com a paralisação. De todo modo, em meio aos questionamentos sobre a legalidade ou não do movimento, ele afirma que Cabral também deve ser responsabilizado, em caso de eventuais transtornos.

"O Sérgio Cabral está mais preocupado com a própria imagem do que com a população em si. Ele deveria assumir o papel de chefe de Estado e parar para negociar. Se, em vez de tentar desqualificá-los, adotasse uma postura conciliadora, duvido que houvesse sequer ameaça de greve. E este não é o único problema. Apesar da precariedade do sistema de transportes, o secretário Júlio Lopes permanece no cargo. A situação da saúde e da educação também é péssima. Tudo isto depõe contra ele", critica.

Embora considere completamente inadequada a decisão de transferir o cabo Benevenuto Daciolo do Quartel General do Corpo de Bombeiros, onde estava detido, para o presídio Bangu 1, na Zona Oeste, o também deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), ligado aos militares, diz ver com bons olhos a postura do governo na condução do caso.

“Falo isso com a maior tranqüilidade, porque não faço parte da base aliada. O substitutivo aprovado nesta quinta-feira representa grandes avanços para a categoria. É claro que não é o ideal, mas, dentro das atuais circunstâncias, é o que é possível fazer. Em uma negociação, ambas as partes tem que ceder. São cidadãos honestos, mas estão agindo com a emoção. Não é oportuno. A população não quer a greve. É preciso ser um pouco mais racional neste momento", pondera.

Quanto ao possível desgaste da imagem de Sérgio Cabral, ele minimiza: 
"Não é um problema exclusivo desta administração. É algo que se acumulou ao longo de décadas e acabou por explodir agora. Não creio em prejuízos".

Especialistas dizem que Cabral pode se sair vitorioso
O professor e cientista político Adriano de Freixo, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), acredita que o episódio pode até ser capitalizado de forma positiva pelo governador Sérgio Cabral. Segundo ele, a onda de homicídios que eclodiu na Bahia após a paralisação dos agentes criou uma imagem negativa do movimento perante a opinião pública, ao contrário do que ocorreu ano passado, quando a mobilização dos Bombeiros ganhou forte apoio popular. Deste modo, em meio ao medo do aumento da violência, uma reação firme poderia ser vista como uma prova da força do Estado.

“O que pude sentir é que há uma sensação geral de medo. Até mesmo alunos que geralmente têm certa simpatia em relação a esse tipo de causa mostram-se reticentes. Noto uma tendência de posicionamento contrário ao dos policiais. Há uma estratégia de segurança bem definida, envolvendo a Força Nacional e o Exército, para o caso de uma greve de grandes proporções. A presença ostensiva das Forças Armadas, que têm uma reputação bastante positiva perante a população, poderia até aumentar a sensação de proteção nas ruas. Que fique claro: greve de PM não é greve, é motim. Uma postura firme seria muito bem vista pela população”.

A opinião é compartilhada pelo também professor e cientista político José Paulo Martins Junior, do Deportamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). "Tudo vai depender do desenrolar da situação, mas acredito que, com um pouco de negociação, ele conseguirá reenquadrar a polícia. E caso o que ocorreu na Bahia não se repita no Rio, ele pode até ganhar alguns pontos com a população", conclui.
JB

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