terça-feira, 27 de março de 2012

Falta merenda para crianças de creches da Baixada

Alimentos ainda não chegaram às 21 conveniadas em Nova Iguaçu este ano. Unidades só funcionam na base da doação


Pelo menos 1.200 crianças não estão tendo o que comer nas creches comunitárias mantidas pela Prefeitura de Nova Iguaçu. Com isso, a promessa da prefeita Sheila Gama (PDT) de priorizar a educação com reforço da merenda escolar mais nutritiva não está sendo cumprida. Desde o início do ano letivo, em fevereiro, nenhuma das 21 unidades selecionadas para acolher as crianças em 2012 recebeu alimentos. Algumas enfrentam o problema desde agosto do ano passado. Coordenadores apelam para a boa vontade de pais e comerciantes, que têm feito doações para manter as unidades em funcionamento.

Diretora do Núcleo de Creches e Pré-Escolas Comunitárias da Baixada Fluminense (Nucrep), Marinez da Silva Vicente Simões disse que vai denunciar o fato ao Ministério Público. Ela classifica como “morosidade, descaso e desrespeito” a atitude da Secretaria de Educação do município com as unidades conveniadas, na renovação do acordo. Sem a renovação, segundo ela, não é possível receber a merenda escolar, que deveria chegar às instituições uma vez por semana.


Cartaz pede ajuda
Coordenadora do Centro Integrado de Desenvolvimento Infanto-Juvenil (Cidi), no bairro Palmares, Maria Luciane Silva mostrou, sexta-feira, as duas geladeiras e a dispensa da creche abastecida apenas com alimentos doados. Para alimentar as 70 crianças matriculadas, ela colocou um cartaz na porta da unidade, pedindo ajuda aos pais e ao comércio local.

“Não recebemos um tostão da prefeitura desde dezembro, embora a creche continue funcionando”, contou.

Drama semelhante enfrentam as 40 crianças da Creche Semente do Amor, no bairro Campo Alegre. “Estamos sem receber merenda desde setembro. Hoje (sexta-feira) servimos no almoço salsicha, repolho, arroz e feijão; não tivemos mistura (carne ou frango)”, lamentou Joseni de Fátima da Silva, conhecida como Irmã Fátima.

“É uma situação crítica, porque as crianças estão sem se alimentar direito, entre 7h30 e 16h”, disse Flávia de Araújo Costa, 29 anos, mãe de Nicolas, de 4 anos. Ela colabora doando alimentos. “Não tem cabimento a prefeitura deixar tanta criança passando fome”, repreendeu Fabíola Soares da Silva, ao entregar alimentos não perecíveis para a creche.

Pendência na prestação de contas
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação de Nova Iguaçu, os processos para a renovação dos convênios foram encaminhados à Secretaria de Despesas e Planejamento (Semdep).

Mas frisou que a distribuição da merenda só pode ser feita mediante a aprovação da prestação de contas por parte das creches. “Os convênios são celebrados de janeiro a dezembro e representam um acordo entre as partes, com direitos e deveres de ambos os lados”, diz a nota.

Ainda segundo a prefeitura, a maioria das creches selecionadas na convocação de 13 de março para a renovação do convênio não havia cumprido o prazo para sanar pendências.

Educador reprova atraso
A falta de merenda nas creches foi classificada como desumana pelo educador Emílio Araújo. Segundo ele, mesmo havendo pendência na documentação da instituição, a prefeitura recebe repasse do governo federal para alimentar crianças que constam do Censo Escolar do Ministério da Educação. “Não pode faltar alimento”, afirmou.

A merenda só chegou na semana passada em escolas de Ensino Fundamental de Nova Iguaçu. Questionada pela Comissão de Educação da Câmara, a secretária Sandra Gusmão alegou que o fornecimento foi interrompido porque algumas unidades tinham gêneros alimentícios em excesso.
O Dia

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