domingo, 20 de maio de 2012

Investir no professor é solução para alavancar educação

A solução mais eficiente para garantir ensino de qualidade na área rural é investir na formação de professores. Essa é a opinião de quem vive experiências de sucesso na região da Chapada Diamantina, na Bahia. Tanto para coordenadores quanto para os próprios professores, a qualidade das aulas mudou quando os educadores receberam orientação.

 Vinte e dois municípios baianos participam hoje de um projeto idealizado por uma professora inquieta com a própria realidade. Cybele Amado não se conformava em ver seus alunos da área rural de Caeté-Açu, na Bahia, sem aprender. Ela não sabia como ajudá-los e nem a quem recorrer. “Faltava formação e orientação mesmo”, conta.

Cybele conta que, aos 20 anos, diante de estudantes com idades diferentes e cursando séries distintas na mesma sala de aula, se sentia mais do que perdida. “Eu sentia necessidade de sair do isolamento”, conta. Naquela época, mais de 15 anos atrás, a escola em que trabalhava não tinha internet, nem biblioteca.

O Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), criado por Cybele, hoje é uma rede de colaboradores. Professores, coordenadores pedagógicos, diretores e gestores se reúnem, todos os meses, para dividir experiências e buscar, juntos, soluções. Em todos os encontros, os alunos se tornaram foco. Fazê-los aprender é missão seguida por todos.

A proposta do Instituto, adotada por esses 22 municípios, é integrar os diferentes profissionais das secretarias municipais de educação na tarefa de ensinar. “A aprendizagem do aluno deve estar em primeiro lugar em todas as ações. Mas essa responsabilidade não pode ficar nas mãos dos professores apenas. Todos os atores precisam entender seu papel”, afirma.

Por isso, as formações do projeto incluem todos. A combinação feita com as secretarias é de que coordenadores pedagógicos tenham tempo reservado, todas as semanas, para planejar as aulas com os professores, ouvir deles as dificuldades que estão sentindo e formá-los para lidar com os problemas. O processo é o mesmo nas escolas urbanas ou rurais.

Os resultados já são visíveis. Alguns dos 22 municípios que atualmente compõem a rede do instituto, que fica na Chapada Diamantina, já se destacam no índice que mede a qualidade da educação básica, o Ideb. E não há diferença de desempenho entre as escolas da zona rural e as urbanas nessas cidades.
O transporte até a escola é uma dos grandes complicadores de quem vive na área rural. Muitos colégios rurais foram fechados nos últimos anos
Em Boa Vista do Tupim, o Ideb da 4ª série do ensino fundamental, em 2009, foi de 5,8. O Centro Educacional de Terra Boa, na zona rural, tem Ideb 5,3. A meta do Ministério da Educação é que o País atinja a meta de nota 6 em 2022. Em Ibitiara, cujo Ideb é 5, a Escola Professora Maria M. Xavier, também localizada no campo, o índice é 5,2.

Mudança de olhar
Edinorma Medeiros Gomes de Moraes é apaixonada pelo trabalho na área rural. Mesmo com os convites para lecionar na cidade, ela garante que nunca se sentiu tentada a deixar seus alunos da 4ª série da Escola Municipal Diretor Joel Porto de Oliveira, localizada em um povoado na área rural de Ibitiara, na Bahia. “Eu me apaixonei pelo lugar. Estou nessa escola há 18 anos. Antes dela, trabalhei quatro anos em outra escola rural. As crianças aqui têm mais interesse do que as da cidade. Para elas, a escola é uma alegria”, garante.

A professora conta que, durante muito tempo, precisava se virar sozinha com os problemas de aprendizagem das crianças. E com as falhas de sua própria formação também. Ela só havia concluído o magistério. A escola não tinha coordenador ou diretor. “Era muito difícil. Não tinha formação nenhuma, faltava material, não tinha laboratório de informática ou biblioteca”, diz.

Com o projeto do instituto, Edinorma perceber a importância de estudar. Cursou pedagogia, fez especialização. Na rotina semanal, incluiu planejamento pedagógico, grupo de estudo com coordenador, avaliação. “Me sentia um pouco cega, sem saber o que estava fazendo. Antes fazia planejamento anual e nem abria ao longo do ano. Hoje, mudei tudo nas minhas aulas. Hoje faço meu planejamento pensando no aluno que eu tenho”, afirma.

Na opinião de Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita, o segredo do sucesso do projeto é mostrar a importância de dar estabilidade às ações e de fazer do trabalho um compromisso coletivo. Ela não descarta, porém, que garantir equidade de condições entre as crianças da área rural e da cidade é fundamental.

“Enquanto não se priorizar a formação dos professores e coordenadores, não adianta falar em melhoria da qualidade da educação. A formação inicial não dá capacidade para ensinar. Não se tem didáticas específicas nos currículos de pedagogia”, analisa.
 iG

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