segunda-feira, 9 de julho de 2012

Como culpabilizar escolas e professores, esquecendo-se do principal


Há um processo de simplificação absurda no que diz respeito ao entendimento do que seja a educação das crianças e adolescentes.

Para as pessoas que não estão dentro de uma sala de aula, a coisa seria muito simples: basta o professor ser bom e saber ensinar, que as crianças aprendem.

Ou, então, basta o professor ser bom motivador, para que as crianças sejam motivadas a estudar.

Ops! Tem algo errado… Não é bem assim!

Aprender envolve ações individuais, pois não se pode abrir a cabeça de outrem e enfiar conhecimentos dentro dela.

Aquela história de que se aprende por osmose, tampouco é verdadeira.

Portanto, não adianta o professor ensinar – ou tentar ensinar – pois que, se o aluno não quiser, não irá aprender.

E é difícil, muito difícil, hoje em dia, motivar as crianças para o estudo dessas coisas “chatas”, tendo o mundo inteiro lhes dizendo que mostrar a bunda é que é legal, com o futebol que se fica rico, que o bandido é que é bacana.

Basta meia hora de televisão para desfazer um mês de aulas e “ensinamentos” que possamos fazer.

E aí, o aluno não quer o que temos a oferecer: um conhecimento que, muitas vezes, é abstrato, que exige raciocínio lógico, que não tem aplicação imediata, que só aparece somando-se ao longo dos anos de estudo.

É como eu já disse por aqui, comparando com o ofício de um médico: a pessoa vai ao médico, pois tem um problema de saúde e quer se curar. O médico faz exames e receita remédios e determinadas atitudes que o farão melhorar. Mas o paciente não toma os remédios e faz ouvido de mercador para as atitudes, não fazendo nada que o médico tenha receitado.

Ora, é fácil e natural chegar à conclusão de que o paciente continuará doente, ou até mesmo irá piorar ou morrer.

E também é fácil e natural chegar à conclusão de que a culpa, neste caso, não é do médico, mas do paciente que não fez nada do que ele lhe receitou.

A não ser, é claro, que o doente quisesse tomar os remédios mas não pudesse por não ter dinheiro, por exemplo.
Pois bem, e se o professor…
  • Explica a matéria, mas o aluno não ouve nem presta atenção? 
  • Sugere uma leitura, mas o aluno não faz?
  • Passa um questionário que não é copiado nem as perguntas, quanto mais respondido?
  • Leva um exercício, que é ignorado pelo aluno?
  • Passa um filme, mas os alunos só querem ver filme de terror?
  • Pede silêncio, mas os alunos não param de falar?
  • Olha constantemente o caderno, mas o aluno não fez nada ou nem mesmo tem o caderno?
  • Propõe um trabalho com recorte, desenho, cartaz, pesquisa, etc., mas eles fazem só por fazer, sem nenhum esforço para aprender?
Ora, aprendizagem requer labuta, escrita, leitura, releitura, sublinhado, dúvidas, perguntas, diálogo…

Se o professor constantemente, diariamente receita estes “remédios” e estas “atitudes” aos alunos, mas eles não fazem nada, a culpa é do professor?

A culpa é do médico?

Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor, mas se fosse médico, mesmo dos melhores , 80% dos meus pacientes morreriam, apesar de todos os meus esforços.

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