segunda-feira, 2 de julho de 2012

Desculpas, Haddad malufou!

Há um limite ético que o eleitor não aceita ultrapassar: o PT ganhou quando derrotou Maluf, mas, aliado a ele, agora se acabou

O homem, depois que atravessa um rio, ao chegar na outra margem, não é mais o mesmo, assim como o rio. Essa é a lei da dialética num mundo em constante transformação, como dizia Heráclito, na Grécia. De lá pra cá, pouca coisa mudou, com o novo sempre ocupando o lugar do velho. Nas eleições de 2012 em São Paulo havia um pré-candidato novo, com boas chances de mudar a cidade, apresentando novos ideais e métodos para governar. Foi o que escrevi neste canto do Brasil 247, em 10 de setembro de 2011.

Assisti a dois encontros do candidato Haddad para discutir a Habitação e Saúde com as bases do partido, e parecia que ele poderia trazer de volta às ruas a aguerrida militância gratuita e os intelectuais. Agora, quase um ano depois, volto para me desculpar com meus leitores e com os eleitores. Alguns não conheciam aquele colega professor por mim louvado, candidato que seria ungido por Lula e logo adotado pelo PT e sua malcheirosa coligação a Prefeito de São Paulo. O fruto de boa safra estava podre. O candidato novo ficou velho antes da hora, e se vendeu ao diabo para juntar os cacos do tempo da televisão. A luta é difícil, mas, sem ética, o filósofo marxista não pode ganhar a eleição e, segundo a famosa XI tese, transformar o mundo. O povo não é bobo, e Lula não é Santo para sozinho eleger o prefeito, na base de “os fins justificam os meios”.

Luiza Erundina (1989/92), em nome da mudança e da ética, sucedeu Jânio Quadros (1984/87) e derrotou Paulo Maluf, João Leiva e o José Serra. Era o PT socialista que virou a casaca e tentou fazer um governo popular em São Paulo. Porém, tudo o que conseguiu foi ser medíocre, sem deixar nenhuma grande obra. Todavia, Erundina ainda mora na mesma casa simples de anos atrás. Maluf, que a sucedeu (1993/96), acabou as obras de Jânio e guardou dinheiro lá fora – contudo, está impedido de sair do Brasil. A Interpol está na sua cola, com prisão decretada nos Estados Unidos.

Enquanto isso, o PT, que era símbolo da moralidade, de lá para cá entrou na corrupção, haja vista o seu julgamento atual no “mensalão”, que deflagrou a possibilidade de levar à cadeia o presidente do Partido no período daquela eleição, além de parte do governo Lula: o tesoureiro, o operador, o “chefe da quadrilha”, ex-ministros, deputados, alguns laranjas e peixinhos. Hoje em dia mostra sua evolução e malufou! É a prova cabal de que é preciso mudar para continuar como antes. O slogan diz tudo, e se desmancha no ar: “Um homem novo para um tempo novo”. Perde o voto dos idosos, das mulheres, dos gays e a companheira de chapa.

Erundina, certa da luta de classe, pulou da canoa furada do burguês que acha que apenas rio possui margens esquerda e direita. Quanto ao Lula, com a voz apagada, sem ouvir a das ruas, perde o carisma ao assumir publicamente o tradicional estilo populista. Aquela foto do beija mão, com o pupilo Haddad entre os mestres Lula e Maluf, na casa do filhote da ditadura, é autofágica. Parece coisa de Machiavel: é a negação da negação vendida como santíssima trindade.

O PT vive igual crise de identidade nas eleições municipais pelo Brasil afora. Partido de massa, já completou seu ciclo. Nasceu e se acaba em São Paulo. Haverá de surgir um novo partido que una pessoas de princípios semelhantes no combate aos projetos políticos antagônicos. Até lá, consagra o experiente José Serra como o bom administrador de São Paulo para voltar e continuar suas obras. Ou ainda, em vez de café requentado, o eleitor paulistano pode contar com o mais novo Chalita. Vamos dar uma lição nessa malta e mostrar que não se vende o voto nem a alma. Ao Rei Lula tudo, menos a nossa honra. Fora o novo Maluf e o velho PT de guerra.
Jornalista e geólogo, Everaldo Gonçalves foi professor da USP, da UFMG e presidente da CPFL

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