quinta-feira, 19 de julho de 2012

Educação, o melhor negócio!

A dívida das faculdades particulares deve ser trocada por bolsas do ProUni?

As universidades federais vão mal. O seu aparato físico está deteriorado. Salas de aulas, laboratórios, bibliotecas e até mesmo internet estão na lista de coisas que as universidades federais não possuem em condições nem mesmo razoáveis.

Em um artigo anterior aqui na Folha, perguntei se não estamos caminhando para um lugar que ninguém deseja individualmente, mas no qual vamos acabar aportando se a presidente Dilma, pessoalmente, não criar um novo rumo: as universidades federais irão cumprir a função de “alfabetização hipertardia”, transformando-se em “colegiões” substitutos do ensino médio público atual,  abandonado pelo governo.

Volto a dizer isso, pois o que eu temia ganhou mais força: em meio à greve dos professores de todas as universidades federais, e tendo o ministro Mantega afirmado que os funcionários públicos irão “quebrar o Estado” (!), o Senado aprovou no dia 27 de junho um enorme repasse de verbas para cerca de 500 instituições particulares de ensino, uma parte delas de duvidosa qualidade.

Ora, por que elas foram premiadas? Simples: elas não pagaram seus impostos e, então, o Senado achou por bem incentivar a sonegação. Eis a lógica ilógica: “Não pagou? Ah, sem problema, ofereça aí umas bolsas (sem fiscalização) para o famoso ProUni, e liberamos aqui os R$ 15 bilhões para vocês”.

O ProUni nunca foi boa coisa. Pode-se gostar dele por ingenuidade. Mas, em termos de política educacional, trata-se de um tiro pela culatra. O MEC não o fiscaliza corretamente. Mesmo que fizesse isso, não teria o que comemorar.

Colocando na ponta do lápis os gastos e os ganhos, veríamos que ele não é vantajoso para a população ou para o governo. Ele só é bom para o empresário incompetente ou desonesto. Aliás, a própria política do governo Lula para o ensino superior prova isso.

Por um lado, ela teve o ProUni. Por outro, o Reuni, um programa de expansão das vagas no ensino superior público. Bastaria o governo não ficar perdoando quem não paga imposto e, arrecadando corretamente, usar o dinheiro para levar adiante o Reuni de uma maneira mais responsável. Não estaríamos vivendo tão medrosos a respeito do futuro da universidade pública brasileira, como ocorre agora.

Por qualquer matemática sadia, o ProUni anula os benefícios do Reuni. Se a presidente Dilma seguir o caminho apontado pelo Senado -pela brecha do ProUni-, teremos em política educacional um Brasil de ponta cabeça.

Qual dono de faculdade irá, daqui para frente, pagar impostos, se ele sabe que, deixando a dívida crescer, pode dobrar facilmente o Legislativo e, então, pressionar o Executivo para continuar irresponsável?

O ProUni se tornou, como não poderia deixar de ser, uma forma de avisar a todos que o melhor negócio, no Brasil, talvez não seja montar uma igreja, como comumente se diz, mas abrir uma faculdade.

A diferença é que a igreja, para dar certo, tem de dar certo, e a faculdade, para dar certo, tem de dar errado. Dando errado, o ProUni a salva e dá condições ao empresário de araque para ampliar o negócio.
Paulo Ghiraldelli Jr., 54, é filósofo,
professor da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro e autor de “As Lições de Paulo Freire”

3 comentários:

LoginComum disse...

Olá Doc Costa !!

Antes de tudo, quero parabenizá-lo pelo seu espaço e pelo conteúdo disponibilizado nele.

Bom, professor, sabemos que não é de hoje que o congresso (senado e câmara)é afeito aos interesses do povo, e que por isso tem o nome de casa do povo...povo rico.

Vários deputados e senadores são proprietários ou são representantes de entidades privadas de ensino. Daí porque não é surpresa a medida.

Concordo com o autor do artigo (professor como nós) que caberia uma fiscalização mais firme do governo. também estou de acordo com o ReUni, que descentralizou o saber acadêmico do litoral, fazendo a sua interirização nesse Brasil continental em que vivemos.

No entanto, discordo de que o Prouni tenha sido o instrumento que "incentiva" instituições privadas de ensino superior a descumprirem obrigações tributárias com os cofres públicos.
Na minha opinião o próprio autor indica o culpado pela conduta criminosa (não enxergo outro nome) das intituições privadas; o próprio governo.

O ProUni veio ao encontro de uma necessidade urgentíssima de uma imensa massa de formados no ensino básico que - por questões diversas e não necessariamente a falta de recursos ou formação adequada - seriam impedidos de continuar seus estudos caso o governo continuasse a descumprir a sua obrigação constitucional de proporcionar educação. Nesse sentido, o ProUni veio preencher esse hiato.

Porém, a minha crença é que - como a maioria das políticas públicas implementadas nos governos - a amplitude da sua cobertura favorece a burlagem, e dificulta a fiscalização; como por exemplo filhos da classe alta e média-alta que usufruem do programa.

Ainda, no meu entender, ProUni e ReUni seriam complementares; pois enquanto o Reuni não atingisse as metas previstas de ampliação das vagas e redução/eliminação das vagas ociosas, o ProUni continuaria a existir. Então, lá na frente (médio prazo) quando o ReUni atingisse os objetivos, o ProUni reduziria a sua ação até a completa eliminação do programa.

Finalizando, na minha opinião, o autor (deliberadamente ou não) com a sua crítica ao ProUni colabora para a criação de uma visão negativa e nefasta de um programa que visa corrigir uma imensa distorção no quesito nivel de escolaridade da população brasileira, e que é alvo da falta de escrúpulos de nomes com cnpj e cpf.

Desde já agradeço a oportunidade de expresar a minha opinião, assim também como peço vênia se meu ponto de vista destoa do seu.

Atenciosamente,

P.S.: Se ainda não foi, faça uma visita ao meu blog. Se já o fez, apareça quando quiser.

LoginComum disse...

Olá professor !!!

Esqueci de postar o meu endereço.

http://claudio-santos.blogspot.com
ou pelo google digitando :

"so pode ensinar quem gosta de aprender"

Grato.

Doc Costa disse...

Valeu, camarada! O governo é o responsável, mas age segundo os interesses e lobby dos empresários da educação privada.