sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Freixo colhe bom capital político

O candidato Marcelo Freixo é o campeão moral das eleições cariocas.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), segundo colocado nas pesquisas de opinião para a prefeitura do Rio de Janeiro, sairá da disputa como um "virtual vencedor" e dono de um capital político que o credencia para futuros pleitos. Cientistas políticos avaliam que mesmo sem chegar ao segundo turno - o prefeito Eduardo Paes (PMDB) deve ser reeleito já no próximo domingo -, Freixo congrega um setor órfão da esquerda na cidade, parte do eleitorado que sempre votou no PT, e ainda pode alçar o PSOL a principal partido de oposição na região.


Freixo - que militou no PT durante cerca de 20 anos e se notabilizou no PSOL ao presidir a CPI das Milícias e teve como alvo grupos paramilitares liderados por políticos - tinha 10% das intenções de voto em julho, segundo o Datafolha.

A atuação na CPI da Assembleia Legislativa fluminense lhe deu notoriedade nacional ao inspirar um personagem no filme "Tropa de Elite 2".

Na sondagem fechada na quarta-feira, o deputado aparece com o dobro de votos dos adversários, deixando bem para trás nomes e partidos de maior projeção e história no Rio de Janeiro. Paes -- que encabeça uma coligação de 20 partidos, que inclui o PT, mantém a liderança com 57%.

"O Freixo é o segundo vencedor da eleição municipal", ponderou o cientista político e professor da PUC-Rio César Romero. "O maior vencedor é, além do Paes, o projeto político do governador Sérgio Cabral que já se reelegeu uma vez e está reelegendo o prefeito. Garante a hegemonia no Rio de Janeiro por ao menos dez anos", acrescentou, referindo-se à primeira eleição de Cabral, em 2006, e ao fim do segundo mandato de Paes, em 2016.

Logo no começo das eleições, esperava-se um disputa entre o atual prefeito e o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), filho de César Maia, prefeito por três vezes. A vice na chapa de Maia, a deputada estadual Clarissa Garotinho (PR), filha dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, parecia dar ainda mais força a chapa, mas não funcionou. Rodrigo Maia aparece no último Datafolha com 3%, enquanto Otávio Leite (PSDB) tem apenas 2%.

A disputa de Freixo com Paes está longe de ser de igual para igual. Na TV, o atual prefeito é dono de 16 minutos na propaganda eleitoral no rádio e na TV, garantidos pela ampla coligação, e Freixo tem menos de 2 minutos.

Como prefeito, Paes também conta com a boa avaliação dos cariocas: 49% da população considerou a administração municipal ótima ou boa, segundo pesquisa Ibope no início de setembro.

Além disso, o prefeito está amparado por investimentos destinados aos grandes eventos que o Rio de Janeiro vai sediar nos próximos anos - espcialmente a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016 - e pela tríplice aliança entre governo federal, estadual e municipal em torno do seu nome.

"O PT nacional reconhece a liderança do PMDB de Paes e Cabral no Rio de Janeiro, ao passo que o PMDB regional reconhece a liderança do PT em nível nacional, o que torna a situação do Freixo mais delicada", avaliou Romero.

Mas o cientista político faz uma ponderação sobre o desempenho de Freixo. Para ele, o resultado que o deputado vem mostrando nas pesquisas está de acordo com o de outros candidatos de esquerda na capital fluminense.

"É um desempenho importante, mas não chega a surpreender até porque em números é um desempenho parecido com os de candidatos de esquerda nas últimas eleições. Há uma setor de esquerda na cidade que não concorda com a política de alianças", disse Romero.


Capita próprio
Se na eleição de 2008, Paes e o ex-deputado federal pelo PV Fernando Gabeira passaram para o segundo turno na reta final, desta vez faltou um terceiro candidato competitivo para forçar uma nova rodada. Há quatro anos, o terceiro colocado, o atual Ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), teve quase 20% dos votos.

"Se tivéssemos um adversário com votação mais forte nos ajudaria a chegar ao segundo turno", disse Freixo à Reuters. "Essa nossa campanha é vitoriosa independentemente do resultado eleitoral e isso não quer dizer que a gente não queira vencer nas urnas."

Ele acredita que tão importante quanto o resultado das urnas é a ascensão regional do PSOL, que passa a se tornar a principal força local de oposição e o principal partido de esquerda do Estado.

"O PSOL tem apenas sete anos e o partido sai dessa eleição como principal referência da esquerda e com boa bancada", disse o parlamentar ao apostar em três ou quatro vereadores eleitos para a Câmara Municipal. "Vamos lutar para reunir movimentos sociais, populares e fortalecer a esquerda."

Para Romero, no entanto, o capital político acumulado na campanha é do próprio candidato, sem que isso necessariamente beneficie o PSOL. "O Freixo sai da eleição como o principal opositor de Paes... mas não sei se o partido também", resalta o cientista político. "Marina Silva teve 30% dos votos na eleição presidencial no Rio de Janeiro e hoje está sem partido. Heloísa Helena foi bem em 2006 e hoje só consegue um cargo de vereadora em Maceió. O cacife é dele."

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