domingo, 26 de maio de 2013

A mentira do bilhete único no Rio de Janeiro

O prefeito Eduardo Paes mostra o Bilhete Único Carioca. Na prática, benefício é pouco!
A mentira do bilhete único no Rio de Janeiro

O título do post é forte, mas justifica-se. Quando lançado em São Paulo, o Bilhete Único foi responsável por uma pequena revolução no transporte público. Lembro bem de que, em 2001, tomei um susto quando deixei de pagar pelo segundo ônibus que pegava para ir até a faculdade. Cheguei a pensar que era um engano. 

O sucesso foi tão grande que não há eleição na cidade em que o tema não seja explorado, envolvendo todo o tipo de promessas. Fernando Haddad, por exemplo, foi eleito prometendo a criação de mais uma modalidade de tarifa, a mensal.

Aliás, quando lançado, o sistema era muito mais prático do que hoje. O carregamento do bilhete era feito em vários estabelecimentos comerciais; não era necessário um cadastro prévio, bastava comprar um cartão nas bilheterias de terminais e era possível usufruir das 2 horas de gratuidade mesmo que o bilhete estivesse sem carga. Por conta das fraudes, agora é preciso vincular um CPF ao bilhete para ter acesso ao recarregamento na catraca. O número de locais para recarga também caiu drasticamente.

Ainda assim, o bilhete de São Paulo ainda é muito superior ao seu similar carioca. No Rio de Janeiro, as dificuldades são tantas que a sensação é de que o bilhete existe por existir, não para facilitar a vida de quem usa. 
A dificuldade começa no fato de que há pouco pontos de venda. O bilhete é vendido em agências do banco Itaú – numa relação no mínimo inusitada entre um grande banco comercial e o poder público – e nas lojas da RioCard. Em toda a cidade do Rio, existem apenas cinco dessas lojas. Isso significa que a maior parte da população está impedida de comprar um bilhete fora do horário comercial. 

Passada essa fase, é preciso vincular um CPF ao cartão. Sem isso, ele não poderá ser usado. Para fazer isso, o usuário deve acessar a internet. Isso não pode ser feito na hora da compra. Pelo menos é essa a informação disponível no site. Como faz muito pouco sentido, afinal a inclusão digital no Brasil ainda não atingiu todos os usuários de ônibus, decidi entrar em contato com a RioCard, sem sucesso. Ao digitar o número do telefone, uma mensagem diz que o número está “impossibilitado de receber chamadas”. Sugestivo.

Se depois de muito trabalho o cidadão consegue cadastrar o CPF e começar a usar o cartão, encontrará mais restrições. O cartão só rende duas viagens em ônibus que custam R$2,75. Nas várias linhas que custam mais, o sistema não funciona. E, suprema crueldade numa cidade em que os termômetros alcançam os 40 graus com facilidade, o benefício tampouco vale nos coletivos com ar-condicionado. 

A tudo isso soma-se o fato de que as recargas só podem ser feitas pela internet ou nas cinco lojas da RioCard já citadas, a baixa qualidade dos veículos, o comportamento abusivo e perigoso dos motoristas ao volante, que rende acidentes diários – já fui obrigada a pegar ônibus na pista da esquerda, grávida, e a andar em um coletivo em que o motorista estava fumando – e chega-se ao grau de despreocupação com o cidadão que a prefeitura parece ter com o cidadão.

Claro que nem tudo é desgosto no transporte por ônibus na cidade – há veículos novos com piso rebaixado circulando na cidade e o TransOeste, primeiro dos corredores exclusivos para ônibus já planejados, já está em funcionamento, melhorando a locomoção de quem vive a oeste da Barra da Tijuca. Mas é pouco. Quem anda de ônibus no Rio sabe a aventura que é. Passou da hora de mudar esse quadro.

RBA

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