quarta-feira, 1 de maio de 2013

Claudio Leitão: 1º de Maio


O QUE COMEMORAR NO DIA 1º DE MAIO?

Em 1889, na França, durante a 2º Internacional Socialista, convencionou-se que no dia 1º de maio seria comemorado o Dia do Trabalhador. A data foi decidida em homenagem a uma manifestação de trabalhadores em Chicago, importante cidade industrial norte-americana, em 1º de maio de 1886, que lutava pela redução da jornada de trabalho. Esta data foi referendada por vários países no mundo, mas estranhamente, nos EUA a data é comemorada em setembro.

Isso é história, mas ao chegarmos a mais um 1º de maio, efetivamente, o que temos a comemorar de novas conquistas para o trabalhador brasileiro. As principais centrais sindicais preparam mega-eventos, as vezes, com patrocínio do grande capital, com direito a distribuição de brindes e shows de artistas famosos. Entretenimento, diversão e alienação, sem discutir realmente as possibilidades de conquistas que possam transformar para melhor a vida do cidadão trabalhador.

Será que são motivos de comemoração o aumento arrochado do salário mínimo, o corte de 50 bilhões no orçamento prejudicando programas sociais, a timidez do ajuste da tabela do imposto de renda pessoa física, a manutenção do nefasto fator previdenciário, o aumento das aposentadorias abaixo do índice de inflação, a possibilidade do aumento da idade mínima para aposentadoria, a redução da contribuição patronal para o INSS, o congelamento do salário dos servidores públicos federais, a implantação da alta programada para aqueles trabalhadores que estão entregues ao benefício do seguro saúde do INSS,  o aumento da taxa Selic que vai sangrar ainda mais o cofre público aumentando a transferência de renda para os grandes capitalistas, a nova revolta de milhares de operários nos canteiros do PAC nas usinas hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Santo Antonio, o caos da saúde pública em todo o país que mata trabalhadores pobres, o aumento da violência urbana, a alta das tarifas provocadas pela privatização dos serviços públicos, além de outros episódios que deveriam pautar a agenda das centrais sindicais para mostrar a realidade e conscientizar mais a classe trabalhadora que é cumpridora de seus direitos, mas não recebe a contrapartida que lhe é devida pelo Estado.

Em nosso município, será que os funcionários públicos vão comemorar as trapalhadas do atual governo no pagamento do PCCS, a não efetivação dos que passaram no último concurso público, a preferência por contratados em detrimento dos concursados, a falta de condições adequadas na maioria das escolas públicas, a não devolução de descontos indevidos ao IBASCAF. 

No campo privado será que o trabalhador cabo-friense vai comemorar a falta de treinamento e fardamento adequado nas empreiteiras terceirizadas, o caos na saúde pública municipal, as subvenções nebulosas do péssimo transporte coletivo,  o crescente aumento da violência, o desemprego galopante, a falta de cursos técnicos e profissionalizantes, a falta de uma Universidade Pública, o site da transparência fora do ar.

Ah, esqueci, tem os shows, né.......

Sei que muitos trabalhadores irão às festas, comemorar, vibrar, beber e aplaudir políticos e pseudo-lideranças sindicais que cresceram politicamente e esqueceram dos eixos programáticos que lutavam no passado. Alguns acham que é assim mesmo e que  não adianta lutar mais por conquistas definitivas e duradouras e que o bom é a “conciliação de classes”, mantendo o trabalhador submisso aos interesses do grande capital.

Apesar de atualmente não estar à frente do movimento sindical de minha categoria, continuo sendo dirigente sindical, filiado a CONLUTAS, a única central sindical e popular que não se vendeu e não se transformou em correia de transmissão do governo. No dia 1º de maio não vou comemorar e sim reivindicar o que entendo ser nosso direito, além de cobrar os deveres que o Estado por obrigação constitucional precisa cumprir com a classe trabalhadora.

Na Europa, principalmente na Grécia e na Espanha, os sindicatos não farão festas, irão protestar e cobrar direitos negados por ajustes neoliberais que aprofundam a pobreza, o desemprego e as desigualdades sociais.

Cadê a pauta de reivindicações de nossas centrais sindicais?

Não existe vitória sem luta.

“Uma idéia só se torna uma força material quando ganha as massas organizadas.” Karl Marx

Cláudio Leitão é economista e membro da executiva do PSOL Cabo Frio.

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