terça-feira, 17 de setembro de 2013

Rogério Carvalho: GENÉRICO, ORIGINAL e SIMILIAR

Manifestação em junho no centro do rio de Janeiro: Não é só pelos 20 centavos!
GENÉRICO, ORIGINAL e SIMILIAR

      As jornadas de junho, a série de manifestações que ainda reverbera pelo país parece ter despertado o até pouco tempo adormecido debate ideológico entre capitalistas, socialistas, anarquistas e niilistas. 

     É cada vez mais frequente e violento o ataque dos reacionários (que pretendem que tudo permaneça como está, que defendem o capitalismo que mata aos milhares todos os meses)  aos  grupos que se opõem às suas práticas venais, obscuras e totalmente desvinculadas das reais necessidades da população. 

     O retorno desse enfrentamento contradiz o próprio discurso neoliberal que até há bem pouco tempo atrás pregava que as transformações não mais seriam possíveis, que a História havia acabado num triunfo apoteótico do capitalismo. Esses ataques revelam ainda o pavor desses parasitas do sistema diante do fortalecimento do ideal socialista.  

      A resistência da população em permitir a participação  de partidos políticos nas manifestações, mesmo aqueles que sempre estiveram nas ruas antes do breve e parcial "despertar do gigante" é compreensível diante do oportunismo que caracteriza a prática da politicagem brasileira. A população experimenta o desencanto cotidiano e sendo vítima da própria prostração, acaba sendo uma presa fácil para os abutres adeptos da velha política pragmática. Me refiro àqueles que negociam paliativos por poder, sem nada transformar que não seja para mais, os dígitos dos seus indignos metais.

      Recentemente o caso envolvendo a Deputada Janira do PSOL -RJ fez a alegria de muita gente que não pode conceber a existência de uma maneira alternativa diferente de se fazer política. A felicidade destes é proporcional à surpresa e o desapontamento daqueles que não conhecem a estrutura partidária do PSOL, segmentado em correntes que seguem teses diversas.

     Como presidente do diretório do PSOL Cabo Frio, tudo o que posso é afirmar que não concordamos com as práticas das quais a deputada foi acusada e que a sua expulsão nos parece  a única alternativa para que o partido continue a ser uma opção de enfrentamento ao patrimonialismo, à corrupção e à subversão dos princípios da representatividade política. Nós continuamos acreditando ser possível transformar a sociedade com investimento nas áreas essenciais para garantir a dignidade humana em detrimento da apropriação do estado por grupos privados.

       Os militantes do PSOL têm sido atacados pelos "donos" do poder local aqui na cidade de Cabo Frio (que o prefeito considera ser uma extensão do seu quintal), pelos seus posicionamento s contrários ao jeitinho de lidar com a coisa pública por parte deste e do antigo governo. Mas ninguém chuta cachorro morto e no fundo somos gratos à propaganda gratuita (suas leituras de Maquiavel caducaram).  

    Seus espaços virtuais, privados e cooptados têm sido franqueados à reacionários cujos discursos ultrapassados remontam a velha ladainha dos caipiras que julgavam ser os socialistas seres alienígenas que devoravam crianças no café da manhã nos tempos da Guerra Fria. Além disso, só ouviram falar do Stalin e do Che Guevara, provavelmente ao fazer um trabalho de escola utilizando a revista Veja no final dos anos 80. Mas estes reacionários são pessoas altamente adaptáveis. No caso da implantação de um governo comunista, por exemplo, com certeza abraçariam a causa com fervor e mandariam tatuar  a foice e o martelo na testa, se isso lhes garantisse os privilégios.
     Nas falácias, os estudantes que militam no PSOL Cabo Frio têm sido acusados de partidarizar o movimento estudantil. Isso nos enche de orgulho, no entanto, não foi o PSOL quem procurou estes estudantes, foram os estudantes que vieram procurar o PSOL para institucionalizar a sua luta, uma vez que  o movimento na cidade era inócuo e suas lideranças aparelhadas pelo antigo governo. Ficar ao lado dos poderosos é "mole e é lindo"! Mas e acampar a luta dos estudantes do IFF e das categorias menos favorecidas? E se colocar contra o eterno monopólio da Salineira? E  desprezar benesses do apadrinhamento político/empresarial para poder trabalhar contando com a própria competência? Isso é ser radical demais, não é mesmo?

      O arrefecimento dos movimentos de junho ocorreram justamente pela falta de um ideologia que os norteassem. Só havia desejo, não havia método. A História ensina que o componente ideológico antecede as transformações sociais. Reconheço, no entanto, a dificuldade de mobilizar  e promover uma revolução intelectual via reeducação diante do contexto de alienação na qual a sociedade se encontra. Os arautos e os cúmplices desse estado alienatório consideram qualquer militância ou grito contra a opressão uma conspiração comunista; presenciamos uma histeria programada que há muito não se via.

        Apesar da semeadura da incerteza e da desesperança dos que não desejam a emancipação da população, seguiremos acreditando e tentando transformar este cenário de caos e abandono.  Somos poucos, não contamos com aporte financeiro e por isso também não dispomos dos meios midiáticos tradicionais, mas acreditamos com todas as nossas forças que escolhemos o lado certo nessa luta injusta. Por fim, gostaria de reiterar o total apoio do PSOL ao movimento estudantil de Cabo Frio, bem como às reivindicações dos servidores municipais. 

          A construção de uma sociedade mais justa e igualitária é possível sim, mas para tanto será necessário combater cotidianamente aqueles que para confundir a população utilizam um discurso GENÉRICO atribuindo a todos o mesmo peso e medida, não tendo em momento algum um posicionamento ORIGINAL, uma vez que agem de forma SIMILIAR a tantos outros que, por interesses pessoais, querem fazer você acreditar que a História acabou e que nenhuma mudança é possível.  Eles sabem, mas não querem que a sociedade descubra que o gérmem da transformação social reside em cada um de nós.
Professor Rogério é Presidente do PSOL Cabo Frio

Um comentário:

Anônimo disse...

UM DISCURSO JUSTO E PERFEITO DE QUEM ACIMA DE SER PRESIDENTE DO PSOL-CABO FRIO MOSTRA TOTAL LUCIDEZ E OBJETIVIDADE. NO PSOL NÃO EXISTE O "BEIJA MÃO" PARA SE ALCANÇAR CARGOS PÚBLICOS. É EVIDENTE QUE ERROS EXISTEM , AFINAL O PSOL TAMBÉM TEM COMO FILIADOS E MILITANTES O SER HUMANO. MAS, AS APURAÇÕES SÃO CONTUDENTES E SEMPRE EM DEFESA DO NOME PSOL, COISA MUITO RARA DE SE VER NOS DEMAIS PARTIDOS POLÍTICOS.
SERGIO A. FRIDMAN