segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cabral paga mico em público na despedida do Papa!

O constrangimento de ter um governador sem noção

Os anos passam e o governador Sérgio Cabral não aprende a se comportar em público, principalmente estando ao lado de autoridades ou pessoas públicas de projeção.  No Carnaval de 2010, quando recebeu a presidente Dilma - na época ainda ministra - no Sambódromo para assistir  ao desfile das escolas de samba, o fanfarrão governador deu uma entrevista completamente bêbado para várias TVs estrangeiras,num mico internacional que só ele seria capaz de pagar. 

Na despedida do papa, na Base Aérea do Rio no domingo (28), novamente nosso governador “sem noção” cunha sua marca com uma gargalhada desproposital, quase assustando o sumo pontífice. Veja abaixo os vídeos dos dois vexames de Cabral.

Veja a gargalhada de Cabral a partir do 6 minuto do vídeo abaixo

Abaixo o vídeo de Cabral e Dilma em 2010 no Sambódromo 


JB

domingo, 28 de julho de 2013

Nota da Executiva Estadual PSOL/RJ sobre o PSOL de Iguaba



Nota da Executiva Estadual PSOL/RJ

A Executiva Estadual do PSOL resolve submeter a filiação do Sr. Paulo Jordão à apreciação desta instância. 

Portanto, até que tal debate seja realizado, fica desautorizado o Sr. Paulo Jordão a se apresentar como representante do Partido e de inaugurar sede do PSOL na cidade de Iguaba.

26 de julho de 2013 
Executiva Estadual do PSOL/RJ

terça-feira, 23 de julho de 2013

Chico Alencar: País mudo não muda


País mudo não muda

As manifestações que tomaram as ruas das cidades brasileiras mexem com as categorias tradicionais de análise. Tudo o que se elabore a respeito será insuficiente, pré-texto que é também pretexto para justificar o não entendimento completo desse contexto singular. A régua usada para medir movimentos anteriores não é adequada para avaliar os atuais, que “não têm CNPJ”. Uma boa embocadura é fazer considerações a partir do que diziam alguns cartazes que os milhares de manifestantes, na sua maioria jovens, portavam: “O gigante acordou”

A história brasileira registra manifestações massivas e explosivas de caráter urbano. Em 1890, ainda no II Reinado, o Rio de Janeiro agitou-se por dias seguidos, em reação da população contra o aumento de 20 réis na passagem dos bondes. Portanto, tanto o ‘gigante’ já acordou antes quanto é possível que volte, agora, a adormecer – sedado pela inorganicidade dos protestos e pela sua extrema diversidade, reflexo de uma sociedade que, historicamente, tem mais estadania do que cidadania

Que os conservadores não se sintam aliviados, porém: seu sono será leve, assombrando com a possibilidade de acordar a qualquer momento. Há setores sociais novos, apelidados de ‘classe C’, que parecem ter chegado ao limite de sua estimulada capacidade de consumo. Agora, engarrafados nas ‘carrocracias’ urbanas, no sufoco da especulação que aumentou violentamente os preços dos aluguéis e dos imóveis, sem planos privados de saúde e possibilidades de pagar escolas particulares, clamam por serviços públicos de qualidade.

“Não é por centavos, é por direitos”.  
A questão das tarifas foi a faísca que incendiou uma planície de insatisfações até então conformadas. A repressão policial adicionou combustível e demandas reprimidas de diversos setores provocaram o incandescente protesto “contra tudo o que aí está”. A irritação cotidiana com a péssima mobilidade urbana do país – segundo o IBGE, apenas 3,8% dos nossos 5.567 municípios têm Plano Diretor de Transportes, embora 74% deles possuam estrutura administrativa/burocrática para o setor – criou caldo de cultura que engrossou os protestos. Mais que em busca de negociação, os atos eram de rebeldia: não demandavam das autoridades que as recebessem nem constituíam comissão representativa para este ‘diálogo’. É como se a multidão clamasse: ‘quem quiser nos ouvir, que ouça!’. As manifestações multitudinárias de junho estão tendo um efeito-demonstração: de lá para cá, milhares de pequenos movimentos reivindicatórios eclodiram ou se reanimaram.

“Queremos escolas e hospitais padrão Fifa”
Estádios suntuosos foram reformados ou construídos pelo consórcio negocista Fifa-Governo Brasileiro-Parlamento – que aprovou a Lei Geral da Copa e o Regime Diferenciado de Contratações de Obras Públicas, dando arcabouço jurídico ao empreendimento. As arenas faraônicas cumpriram papel pedagógico, ao demonstrar que recursos existem, que prazos podem ser cumpridos... e a falta de critérios no uso do dinheiro público, que não chega para escolas e hospitais. O “padrão Fifa” que se reclama, por óbvio, não é o da gestão da entidade, com tantas denúncias de corrupção.

“Fora todos os governos”
A tônica personalista da política vigente levou a uma contradição: há 3 meses, a aprovação ao desempenho dos governantes – no plano federal e estadual – já contrastava com a avaliação das políticas públicas de saúde, educação, segurança, moradia e trânsito, de tendência claramente negativa. Nas ruas, o repúdio era contra os partidos, pois, no senso comum, nenhum presta. Pesquisa recente revela que 81% dos consultados os consideram corruptos, sem exceção. E também contra a péssima qualidade dos serviços públicos e contra os meios de comunicação de massa, com seu noticiário interessado. Tudo foi posto em questão por uma geração que não conheceu o PT contestador e sim o do poder. Que não viveu qualquer polarização política, mas sim o avassalador processo de ‘peemedebização’ e despolitização da política, com sua devassidão ética, azeitada máquina de captar votos e voracidade de ocupação de espaços.

“Não adianta rugir como um leão e votar como um jumento!”
Aqui há uma mediação com a democracia representativa tradicional, chamando a atenção do próprio cidadão eleitor: ele também é responsável pela degradação do sistema político, ao não dar um voto consciente nem acompanhar a vida pública. Os muito interessados na política de negócios prevalecente são alimentados pelos muitos “analfabetos políticos”, pouco interessados nessa dimensão essencial da existência. O sistema partidário-eleitoral em vigor, fulanizador, excludente, marqueteiro e fisiológico, favorece a captação de sufrágio e a eleição de pessoas sem o menor espírito público, a despeito das leis que criminalizam a captação de sufrágio e tornam inelegíveis os ‘fichas-sujas’.

Saí do Facebook!” 
 A maior novidade é a articulação em rede saindo da telinha para a vida real: ‘o post nos libertará!’. Nunca na história desse país houve tamanho “enxameamento viral”, de uma certa forma mais ‘social’ que ‘político’, e que tende a ser não contínuo e crescente, mas intermitente, como um ‘foco guerrilheiro pós-moderno’ que surpreende o poder com ações ousadas, exemplares, e depois recua – sem sequer saber da existência do manual do velho Che e das estratégias do general Giap... 

As manifestações revelavam um desejo difuso de participação, de cada um ser ator de sua história – de certa forma, cada um sendo sua própria manifestação. No contexto ideológico do hiperindividualismo capitalista em que vivemos, muitos, inteiramente à margem de partidos, sindicatos, grêmios e associações, levaram demandas a partir de sua percepção pessoal, coletivizando-as em sua debutância militante, colocando-as na cena pública.

“Penso, logo não assisto”. 
 As redes sociais confrontaram as redes empresariais e seus grupos restritos, monopolistas. A mídia direta polarizou com a mídia tradicional, embora venham desta – especializada, por dever de ofício – a maioria das intensas e diversas informações que circulam nas redes. Inegável que a internet promove uma democratização dos meios de comunicação, abalando a força indutora da mídia grande, questionadíssima em todas as manifestações. 

Não por acaso está montada uma rede de espionagem, a partir dos EUA, para o controle destas informações, além de, em alguns países, a internet ser rigorosamente controlada e restrita. Nas passeatas, a cobertura das TVs foi hostilizada a ponto de seus repórteres terem que ir sem a canopla dos microfones com as logomarcas de suas empresas. Tão questionada como os partidos, a mídia grande comercial, por óbvio, pouco destacou esse aspecto dos protestos. Mesmo os jornais impressos, muitos pertencentes à mesma rede de comunicação, não noticiaram essa forte contestação. Fundamentalismos religiosos também foram fustigados.

“Quem luta, conquista”
Revelando a força da pressão direta da praça sobre os palácios – antiga proclamação das esquerdas -, as manifestações já produziram resultados concretos, tanto em ações do Poder Executivo (redução de tarifa para 70% da população de cidades grandes e médias e anúncio de projetos para melhorar a mobilidade urbana), do Legislativo (acelerando-se a aprovação de matérias que tramitavam em passo lento) e mesmo do Judiciário (prisão de um deputado ladrão). As diferentes tribos sem tribunos, ocupando os espaços centrais das cidades, constituíram uma original e multifacetada tribuna popular. Disse, sem dizer, que democracia é mais que votar. A antiga cultura participativa da qual emergiu o PT negou o ‘mestre’ hoje acomodado. 

Quem tem a obrigação de decodificar e formular políticas públicas a partir das demandas necessariamente difusas – e, aqui e ali, confusas – são os agentes políticos que se assumem como tais ou estão mandatados para tanto. A cidadania aponta os problemas, com a autenticidade de quem os sofre na carne e na alma. Resolvê-los é tarefa dos que são pagos por ela para esse serviço, que é político e técnico. Desafio grande para quem andava tão blindado contra as massas, só consideradas como de manobra nos anos eleitorais.

“País mudo não muda”. 
 Só o prosseguimento das manifestações tirará da inércia os paquidérmicos Poderes da República. Ao contrário de alguns outros movimentos, no Brasil e no mundo, não há aqui, até o momento, formulação de tomada de Poder, e sim seu questionamento radical. Semelhante ao ‘Ocupa Wall Street’, aqui se enfatiza mais o que não se quer do que o que se quer. 

A ocupação dos espaços públicos por multidões manifestantes – multiclassistas, destaque-se – questiona a lógica do poder que passa pelo controle do território, proclamado como ‘dever de manutenção da ordem’. Reivindicantes/protestantes presentes e visíveis alteram a natureza da tradicional ‘impotência’ das massas frente ao poder estabelecido. Esse autoempoderamento abre a possibilidade estimulante de se estar fazendo história. Para Manuel Castells, sociólogo estudioso da sociedade em redes, “é o caos criativo. Anormal seriam legiões em ordem, organizadas por uma única bandeira e lideradas por burocratas partidários. O espaço público reúne a sociedade em sua diversidade: a direita, a esquerda, os malucos, os sonhadores, os realistas, os ativistas, os piadistas, os revoltados...”

“Sem partido!”  
A este reiterado brado, a reação foi a afirmação, correta, de que sem partidos não há democracia. É imprescindível entender, porém, que os partidos não são mais a única forma de representação da sociedade, e andam cada vez mais dissociados de suas vontades, seja por seu controle caciquista (prática dos da direita), seja por suas autofagias e baluartismos (costumeiros nos de esquerda). Aliás, os grandes partidos brasileiros – que sofrem de ‘nanismo moral’ – e os ditos ‘nanicos’, legendas de aluguel, também não querem aprofundar a democracia, com mais mecanismos de transparência e participação direta da população. 

Não seria exagero dizer que com esses partidos não há democracia! É verdade, por outro lado, que o vazio ideológico e a progressão, nos tempos atuais, da distopia, produzem ‘rebeliões do efêmero’, com uma espécie de solidariedade pós-moderna eventual, com o compartilhamento de reivindicações particularistas. Jovens representantes da Federação Anarquista, por outro lado, costumam lembrar a bela consigna “povo forte não precisa de líderes”. 

Frase de Emiliano Zapata, principal líder da Revolução Mexicana do início do século passado... “Podemos ser qualquer pessoa, as pessoas se apropriam das suas próprias lutas, não precisam ficar esperando alguém dizer o que fazer”, disse Mayara Vivian, que é da coordenação do organizado Movimento Passe Livre de São Paulo. Alguma forma de organização e liderança, ainda que mutante e rotativa, é necessária.

“Vândalo é o Estado”. 
 A sociedade de massas e as grandes metrópoles estimulam mentalidades competitivas e comportamentos de forte tom agressivo, como se vê diariamente nas discussões de trânsito. A tensão urbana explode com frequência, sem controle racional possível. 

É fato que as manifestações, quase sem exceção, possuíam uma ‘cauda envenenada’ que reunia desde jovens no limiar da marginalização – no Brasil, cerca de 24 milhões entre 15 e 25 anos estão fora da escola e do mundo do trabalho – até os ditos mais politizados, defensores da ‘ação direta e violenta contra os símbolos do estado’, entre eles anarcopunks e ‘blacks blocs’. Chegavam encapuzados e com artefatos explosivos de fabricação caseira em manifestações pacíficas que clamavam por transparência. Sua disposição era de brigar com a polícia. Esta, despreparada e militarizada, vendo em todos o arcaico “inimigo interno” dos tempos da Guerra Fria, vinha disposta a, sendo fustigada, atacar tudo e todos, sem critério e economia de bombas, gases, cassetetes. 

A repressão inaudita das PMs foi, sem dúvida, um fator de crescimento das mobilizações, como protesto contra a violência estatal. E o vandalismo do abandono de equipamentos públicos, sobretudo nas periferias, e da subtração de recursos, que a corrupção estrutural realiza, foram constante e corretamente denunciados.

“Se vocês não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”.  
A propósito, Slavoj Zizek, em visita ao Occupy Wall Street (Liberty Plaza, Nova York), em 2011, alertava: “Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. (...) O verdadeiro teste do seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida cotidiana será modificada. Apaixonem-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. (...) Há um caminho longo pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis, questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que queremos.(...) Qual organização pode substituir o capitalismo vigente? Que tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem. (...) O problema maior não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a ser corruptos. (...) Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, tentarão transformar isso aqui em um protesto moral inofensivo. 

Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para entidades caritativas ou comprar cappuccino da Starbucks, que reverte 1% da renda para os pobres do Terceiro Mundo, seria suficiente para nos sentirmos bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nosso engajamento político seja terceirizado – mas agora nós o queremos de volta! (...) Quando fundamentalistas conservadores nos disserem que os EUA são uma nação cristã, lembremo-nos do que é o Cristianismo: o Espírito Santo, a comunidade livre e igualitária de fiéis unidos pelo amor. 

Nós, aqui, somos o Espírito Santo, enquanto em Wall Street eles são pagãos que adoram falsos ídolos! Dirão que somos violentos, que nossa linguagem é violenta, referindo-se à ocupação. Sim, somos violentos no sentido em que Mahatma Gandhi o foi. Somos violentos porque queremos dar um basta no modo como as coisas andam. Mas o que significa essa violência simbólica quando comparada à violência necessária para sustentar o funcionamento do sistema capitalista global? Em breve seremos chamados de perdedores. Mas os verdadeiros perdedores não são os que se safaram com a ajuda de centenas de bilhões do nosso dinheiro? Vocês são chamados de socialistas, mas nos EUA já existe o socialismo para os ricos. Eles dirão que vocês não respeitam a propriedade privada, mas as especulações financeiras e imobiliárias que levaram à queda de 2008 extinguiram mais propriedades privadas obtidas a duras penas – pense nas moradias hipotecadas – do que se estivéssemos as destruindo agora, dia e noite.”

Não tenho hospitais, não tenho escolas, não tenho transporte... E não tenho mais paciência também!”. 
 No Brasil, a degradação da qualidade de vida das pessoas, sobretudo nos grandes centros, tem raízes estruturais. O chamado “inferno urbano” não se explica simplesmente por razões demográficas e imediatas, setoriais. Segundo o economista Reinaldo Gonçalves, o modelo liberal periférico, que a década do lulopetismo não reverteu, implicou “um país ‘invertebrado’, com a perda de legitimidade do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) e das instituições representativas da sociedade civil (partidos políticos, centrais sindicais e estudantis, organizações não governamentais...) 

Trata-se de um social-liberalismo corrompido por patrimonialismo, clientelismo e corrupção e garantido pelo ‘invertebramento’ e pela fragilidade da sociedade civil”. Gonçalves lembra o crescente endividamento das famílias pobres e de classe média como fator de inquietação social, no contexto econômico de liberalização, privatização, desregulação, dominância do capital financeiro, subordinação e vulnerabilidade externa estrutural: “a distribuição limita-se à redistribuição incipente da renda entre os grupos da classe trabalhadora de tal forma que os interesses do grande capital são preservados; não há mudanças na estrutura primária de distribuição de riqueza e renda no que se refere aos rendimentos da classe trabalhadora versus renda do capital”.

“Desculpe o transtorno, estamos mudando o país”.
A multidão produz uma sensação de força que pode se tornar tão generosa quanto... pretensiosa. Não se muda o país sem o enfrentamento, por exemplo, da questão da dívida pública. Ela comeu 44% do Orçamento da União em 2012 (R$ 753 bi), enquanto a Saúde recebeu 4% (R$ 71 bi) e a Educação 3,3% (R$ 57 bi). Transportes ficaram em 0,7%, Segurança 0,39% e Habitação 0,01%. Para este ano de 2013, o valor a ser pago em juros e amortizações da dívida subirá 20%, para gáudio dos grandes rentistas do capitalismo financeirizado. As mudanças só serão estruturais e não cosméticas com um novo paradigma de modelo econômico, e as consequentes Reformas Tributária, Administrativa e Política. A questão ambiental, tão crucial, não estava significativamente representada nas ruas. Sem isso, o transtorno não transforma. E o que alguns proclamam como revolução será apenas pontual irrupção.

Chico Alencar
Chico Alencar é Deputado Federal pelo PSOL-RJ

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Amanhã é dia de LUTA pela educação!




Taxa de homicídios de negros cresce 9% em cinco anos

Favela Danon, município de Nova Iguaçu, 20 de junho de 2011, Baixada Fluminense. O menino Juan Moraes voltava para casa sem imaginar que aqueles seriam os últimos momentos de sua vida. O que aconteceu no instante em que foi morto é nebuloso e ainda não foi totalmente esclarecido, pois o caso ainda será julgado pelo Tribunal do Júri.

Denúncia do Ministério Público (MP), no entanto, relata que Juan, um menino negro, de 11 anos de idade, foi morto por policiais militares, que faziam uma operação na favela. De acordo com o MP, os policiais atiraram na criança, pensando que ele era um traficante de drogas. Ao perceber que tinham matado um menino desarmado, os policiais tentaram ocultar o crime escondendo o corpo.

O crime, talvez, nunca tivesse a autoria identificada se um irmão de Juan, ferido na ação, não sobrevivesse. Foi ele quem relatou o desaparecimento do irmão e a tentativa dos policiais em sumir com o corpo. Juan foi um dos 35.207 cidadãos negros assassinados no país em 2011, segundo levantamento feito pela Agência Brasil com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde

Cruzando as informações do ministério com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), verifica-se que, em 2011, a taxa de homicídios dessa população foi 35,2 por 100 mil habitantes, taxa 9% acima do que a observada cinco anos antes, quando foram registrados 29.925 casos, ou seja, 32,4 por 100 mil habitantes.
Ao mesmo tempo em que negros ficaram mais vulneráveis à violência nesses cinco anos, a taxa de homicídios da população branca caiu 13%, ao passar de 17,1 por 100 mil habitantes em 2006 (15.753 em número absoluto) para 14,9 por mil em 2011 (13.895 casos).

O dado reflete a grande disparidade racial que existe no Brasil, quando se trata de vítimas de assassinatos. Com o aumento dos homicídios entre a população negra, a probabilidade de um preto ou pardo ser vítima de assassinato no país passou a ser 2,4 vezes maior do que a de um branco. Em 2006, a proporção era 1,9.

Mãe de um jovem negro executado em 2006 por um grupo de extermínio, na Baixada Santista, em São Paulo, Débora Maria da Silva não vê uma melhora na situação no país. O gari Edson Rogério Silva dos Santos foi morto a tiros em maio de 2006, durante uma onda de ataques no estado de São Paulo, quando saía para comprar remédio.

Para a mãe de Edson, os negros são as maiores vítimas, porque moram nas áreas mais pobres da cidade. Segundo ela, o Estado ainda mantém uma postura racista, mesmo 125 anos após a abolição da escravatura no país.

“Temos que acabar com isso. Não vivemos mais no tempo da escravatura, que se tem coronéis, capitães-do-mato e sinhozinhos. Apesar de permanecerem as senzalas, que são as periferias, e os porões dos navios negreiros, que são os presídios”, disse Débora, que lidera um movimento por justiça para os assassinatos de maio de 2006.

Para o coordenador da organização não governamental (ONG) Observatório das Favelas, Jaílson de Souza, o aumento da taxa de homicídios de negros tem relação com a mudança geográfica dos assassinatos no país. Nos últimos anos, enquanto o Sul e o Sudeste têm vivenciado a redução das taxas de homicídios, o Norte e Nordeste têm visto um aumento da violência.

Esses estados, segundo Souza, são os que concentram as maiores populações de pretos e pardos. “Quando essa geografia da morte muda, e há mais violência no Norte e Nordeste, essa mudança acaba por gerar mais morte de negros, sejam pardos ou pretos. Em Alagoas, por exemplo, há um branco para cada 20 negros”, disse.

Dos cinco estados onde o assassinato de negros mais cresceu, quatro são do Nordeste e um no Norte. O Rio Grande do Norte teve um crescimento de 2,7 vezes na taxa de homicídios, ao passar de 16,1 por 100 mil habitantes, em 2006, para 43,6 por 100 mil, em 2011. Na Paraíba, a taxa dobrou, de 30,1 para 60,3 por 100 mil.

Entre os outros estados onde o crescimento foi grande entre 2006 e 2011, estão Alagoas (de 53,9 para 90,5 por 100 mil habitantes), o Amazonas (de 22,3 para 42 por 100 mil) e Ceará (de 17,8 para 29 por 100 mil).

Para Jaílson de Souza, o crescimento econômico do país, sem uma mudança da estrutura social, também contribui para o incremento da violência entre as populações mais vulneráveis. “Nosso desafio é reconhecer que não basta o crescimento econômico, tem que ter uma política que leve em conta o racismo, que é um elemento estrutural da desigualdade brasileira.”

EBC

Colisão de estrelas trouxe ouro à Terra


Explosão de estrelas de nêutrons observada por astrônomos reforçou teoria de origem do metal precioso

Um brilho estranho no espaço trouxe novas provas de que todo o ouro da Terra foi forjado a partir de colisões antigas de estrelas mortas, de acordo com um estudo anunciado nesta quarta-feira (17). Os astrônomos sabem há muito tempo que as reações de fusão dentro dos núcleos de estrelas criaram elementos mais leves como carbono e oxigênio, mas estas reações não podem produzir elementos mais pesados, como o ouro. 

Por causa disso, sempre se imaginou que o ouro foi criado em um tipo de explosão estelar conhecida como supernova. Mas isso não explica totalmente a quantidade do metal precioso no Sistema Solar.

Há cerca de uma década, um grupo de cientistas europeus sugeriu, com o uso de supercomputadores, que ouro, platina e outros metais pesados ​​poderiam ser formados quando duas estrelas de nêutrons se colidem e se fundem. Estrelas de nêutrons são relíquias estelares - núcleos colapsados ​​de estrelas massivas. 

Agora, telescópios detectaram uma explosão deste tipo, e a observação reforça a ideia de que o ouro terrestre foi produzido nesse tipo de colisão rara e violenta, muito tempo antes do nascimento do Sistema Solar, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás.

As pessoas "andam por aí com um pequeno pedaço do universo", disse o líder do estudo Edo Berger, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica.
O telescópio Swift da NASA detectou no mês passado uma explosão de raios gama derivada da colisão de estrelas de nêutrons. A explosão aconteceu em uma galáxia distante a 3,9 bilhões de anos-luz de distância. Cada ano-luz tem cerca de 10 trilhões de quilômetros. 

A explosão durou apenas uma fração de segundo. Mas, usando telescópios terrestres e dados do telescópio espacial Hubble, a equipe de Berger notou um brilho estranho que durou dias. A luz infravermelha deste brilho poderia ser uma evidência de que elementos pesados ​​como o ouro haviam sido produzidos pela colisão cósmica, disseram os pesquisadores.

O novo estudo, que será publicado em uma edição futura do periódico Astrophysical Journal Letters, sugere que o ouro da Via Láctea foi produzido de forma semelhante. No entanto, ele não chega a explicar como o metal chegou à Terra. Estudos anteriores sugeriram que o planeta pode ter recebido seu ouro e outros metais preciosos por meio de chuvas de meteoros .

Se a interpretação do novo estudo for correta, "esta notícia é realmente importante", disse o astrofísico da Universidade de Estocolmo Stephan Rosswog, que liderou a pesquisa que usou supercomputadores, mas não esteve envolvido neste novo estudo.

São necessárias mais observações de rajadas de raios gama, mas é provável que fusões de estrelas de nêutrons sejam "um grande caldeirão em que elementos como o ouro são forjados", disse Rosswog.

Imagina-se que estas explosões acontecem na Via Láctea uma vez a cada 100 mil anos. Berger disse que é improvável que outra aconteça na nossa galáxia no próximo século. Mas telescópios podem detectar esse tipo de erupção em galáxias distantes uma vez por mês.

iG

No Rio, licitação de helicóptero teve concorrente único

Apenas uma empresa, a offshore Synergy Aerospace Inc, sediada no Panamá (um paraíso fiscal) e com capital social de US$ 10 mil, foi considerada habilitada no final da licitação que terminou com a venda ao Estado do Rio do helicóptero Agusta AW109 Grand New, avaliado em quase US$ 10 milhões e usado pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB). 

A história da compra do aparelho está documentada no processo de licitação, obtido pela reportagem do Estado por meio da Lei de Acesso à Informação.

Apesar de não ter como fornecer certidões negativas de dívidas, nem livros contábeis, exigidos pelo edital - e de cuja apresentação foi eximida, por ser estrangeira, segundo a Lei 8.666/93 - a companhia, do empresário German Efromovich, controlador da antiga OceanAir e hoje Avianca, pôde participar do certame. A outra concorrente, a Helibras, em nome da francesa Eurocopter, foi desclassificada e desistiu de recorrer. Sozinha na disputa, a Synergy foi vencedora.

O Agusta está no centro de uma polêmica envolvendo Cabral, que até poucos dias embarcava nele na Lagoa Rodrigo de Freitas e voava até o Palácio Guanabara, sede do governo, em Laranjeiras - menos de dez quilômetros depois. Após reportagem da revista Veja que registrou o embarque de familiares do governador no helicóptero, ele anunciou que não voaria mais para o trabalho, mas continuaria a usá-lo para ir a Mangaratiba, onde tem casa de veraneio.
O uso do transporte é citado por pessoas próximas ao governador, como o presidente do PMDB local, Jorge Picciani, como precaução de segurança, devido a medidas de combate ao crime, como as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas. "Vocês acham que o Cabral e sua família não correm risco?"

No "projeto básico para aquisição de uma aeronave tipo helicóptero biturbina de pequeno porte VFR/IFR", porém, o item segurança pública não é citado. No documento de 15 de fevereiro de 2011, alega-se que o Rio tem características de relevo próprias, com vias terrestres espremidas entre montanhas e o mar e condições de tráfego difíceis, "sendo muitas vezes impossível de se (sic) prever o tempo dispensado para um determinado trajeto". E prossegue: "A capacidade de rápido deslocamento permite ao governante manter presença constante nos pontos mais distantes do Estado, bem como ter uma agenda de trabalho mais dinâmica e eficiente."

Segundo o governo, quatro empresas manifestaram interesse no negócio, mas só a Synergy (representante da anglo-italiana AgustaWestland) e a Helibras (em nome da francesa Eurocopter) apresentaram propostas. A TAM (pela americana Bell Helicopter) e a Helicentro (credenciada pela MacDonald Douglas, também dos EUA) terminaram por não disputar. O preço-base foi reduzido, depois que o valor médio, inicialmente fixado em R$ 18.200.201,04, foi corrigido, após intervenção do Tribunal de Contas do Estado (TCE), por reinterpretação da pesquisa de preços, para R$ 16.038.060,96. Tanto a Synergy como a Helibras, porém, foram inicialmente desclassificadas, em julho de 2011, por problemas de documentação, e recorreram.

"Não existe equivalência no Panamá para as certidões da Fazenda estadual e dívida pública ou certidões da Fazenda municipal (referente ao recolhimento de ISS) e dívida pública para empresas que tenham sido constituídas sob as leis panamenhas com o objetivo de exercer suas atividades comerciais fora do território do Panamá", afirmara a empresa, em documento de 17 de junho. "Assim, sendo a empresa uma ‘offshore’ constituída sob as leis da República do Panamá especialmente para realizar negócios fora do território panamenho e que, até a presente data, não emprega funcionários, não está obrigada a cumprir com quaisquer encargos sociais ou trabalhistas equivalentes à Seguridade Social (INSS) e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS)."

De acordo com o governo estadual, as duas empresas desclassificadas ganharam, segundo a Lei 8.666/93, oito dias úteis de prazo para apresentar os documentos que faltavam.

A Helicópteros do Brasil - Helibras - formalizou, por ofício, a desistência de participação no processo, alegando não possuir a documentação técnica exigida. Na pesquisa de preços, a empresa chegara a cotar o aparelho a R$ 13.015.968,00.

Já a Synergy/Agusta apresentou a documentação necessária e foi considerada habilitada a entregar sua proposta", explicou por escrito a administração. A empresa panamenha apresentou documento afirmando ter patrimônio líquido disponível equivalente a 10% do valor/preço do objeto da concorrência. Por isso, o valor do capital social da empresa foi considerado irrelevante.

Em 25 de agosto de 2011, a Synergy foi declarada vencedora, com a proposta de US$ 9.732.934,00, equivalente, na época, a R$ 15.233.015,00. O pagamento foi feito em três parcelas. O dinheiro foi depositado na conta 01-0087148-3, da Synergy, no HSBC Bank Panama S.A., com intermediação do HSBC de Nova York. O negócio foi isento de impostos, porque o Estado do Rio, por lei, tem imunidade tributária. A Synergy foi procurada pelo Estado, mas não quis se pronunciar.

Estadão

sábado, 20 de julho de 2013

Claudio Leitão: Renovação, cidadania e informação

Renovação, cidadania e informação

Temos que parar com esta estória furada de que quem critica Cabral está apoiando Garotinho. Quem critica Alair está apoiando Marcos Mendes, e vice e versa.  Isso é "caô" mal intencionado de quem tem interesse em manter essa "falsa polarização". De quem tem interesse que não apareçam novas alternativas. Querem a todo custo manter "as farinhas no mesmo saco". 

Estes citados representam o mesmo projeto político que o povo, embora de forma desordenada, tem repudiado nas ruas. Representam a velha política, corrupta, fisiológica, assistencialista e sem nenhuma transparência com as contas públicas. 

Antes de nomes, precisamos mudar o velho modelo de gestão pública que estes caras implantaram e que não atendem as expectativas da população. Aí sim, vamos discutir nomes que possibilitem renovação para 2014. 

Você, cidadão comum e honesto que não vêm participando das questões políticas, pode e deve participar também. Não adianta "caras novas" que representem estes "caras" e sua forma não republicana de fazer política. Apesar das manifestações, a mudança só virá com a luta institucional, via eleições. 

Renovação, cidadania e informação serão palavras de ordem em 2014.
"Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo." Karl Marx
Claudio Leitão é economista e membro da executiva do PSOL Cabo Frio

Os brasileiros querem que o Brasil se torne uma Escandinávia

Copenhague: os brasileiros querem os avanços sociais nórdicos
Os protestos deixaram claro que a sociedade anseia por um Estado de Bem Estar Social.

As manifestações de rua que tomaram o país nas últimas semanas, desencadeadas pelas demandas de melhoria e barateamento do transporte público, têm um potencial transformador poucas vezes visto na história do Brasil.

A despeito da intensa disputa pelos significados do movimento e das proporções que assumiu, convém tomá-lo pela sua face visível: a exigência de melhores serviços públicos e garantia de direitos sociais.

Em um sentido político mais amplo, as vozes das ruas também procuram resgatar a política e a democracia plenas, questionando os instrumentos tradicionais de representação, em crise profunda no Brasil e no mundo.

Parece claro que os avanços recentes na inclusão de parcela significativa da população ao mercado de consumo, apesar de positivos, não são suficientes. É preciso ir além e promover a inclusão pela cidadania. Na maioria dos setores sociais este avanço significa assegurar os direitos  consagrados na Constituição da República, graças aos esforços de mobilização social na luta pela redemocratização do país.
O que se demanda, um quarto de século e muitas transformações depois, é que estes direitos sejam efetivados. As ruas pedem Estado de Bem–Estar Social e não Estado Mínimo.

As décadas recentes, marcadas pela globalização e pelas reformas liberalizantes, também assistiram ao enfraquecimento da soberania popular, questionada pelo crescente controle do dinheiro sobre as formas de representação.

A democracia, a política e o papel da sociedade na formação das demandas coletivas foram esvaziados. Os projetos ambiciosos de transformação social perderam quase todas as disputas para a realpolitik e a conciliação de interesses.

O que está em questão é a qualidade da democracia. A sociedade demanda reforço da esfera pública, democracia participativa, prestação de contas pelos governantes e representantes, responsabilidade pública pela qualidade dos serviços, transparência no processo decisório e definição de prioridades que sejam do interesse geral e não do interesse particular.

A presidenta Dilma Rousseff parece ter entendido o recado: as ruas exigem que “o cidadão e não o poder econômico esteja em primeiro lugar”. Mais do que isso, verbaliza disposição de ir muito além do que tem sido feito nos últimos anos: “Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas”.

Mesmo diante das tentativas conservadoras de desestabilização que surgem na esteira das mobilizações, trata-se de oportunidade histórica de fazer avançar a discussão pública, as prioridades governamentais e a própria sociedade na direção da civilização e da justiça social.

O desafio é o de desbravar caminhos inovadores para construir um projeto nacional de desenvolvimento identificado com os anseios populares.

O Estado deve ser fortalecido para ter papel ativo nas transformações exigidas pela sociedade. Não teremos justiça social sem enfrentar as causas estruturais da concentração da renda e da riqueza, que seguem inaceitáveis.


Vaidapé

JB: A segurança pública e a perigosa estratégia da cizânia

O forte aparato policial montado nas imediações da rua do governador, no Leblon, na noite de quarta-feira, não impediu que os protestos e as depredações atingissem comércio, agências bancárias e prédios vizinhos. 

Ao contrário destes, a casa do governador Sérgio Cabral e do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, em Ipanema, saíram ilesas das pesadas cenas de manifestação.

A segurança pública, que existe para defender o povo, cingiu a figura do governador e do secretário, deixando o resto da população à mercê da selvageria.

Na semana passada, a segurança pública agiu de forma semelhante ao usar policiais de elite para proteger convidados no casamento da neta do empresário Jacob Barata, no Rio de Janeiro. Enquanto o resto da população estava desprotegida, homens do Bope agiam num evento privado.

Permitir que haja um confronto entre os manifestantes e o segmento mais pacífico dos cidadãos é uma estratégia perigosa. Ao invés de se erguer contra os que protestam, esta parte da população, abandonada pela segurança pública, pode acabar aderindo ao movimento, aumentando ainda mais a indignação contra os rumos do governo.

Às vésperas da visita do papa Francisco, há um clima generalizado de insegurança pública na cidade. E neste momento, deixar a cidade partida é mais grave ainda.

Como se não bastasse, deixar a cidade se transformar num parque de guerra e obrigar o governo federal a ser acionado para garantir a segurança de um Chefe de Estado é transferir esta responsabilidade à esfera federal.

O JB abomina a violência, e já se manifestou sobre a importância do senhor governador refletir sobre os recentes acontecimentos e suas consequências para o Rio de Janeiro, principalmente quando o estado ganha projeção com eventos como a JMJ, a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Num momento em que as mais virulentas manifestações apontam para a pessoa do governador, é fundamental que ele se dirija diretamente ao povo e não se comunique apenas através de notas oficiais, deixando representantes do governo à frente do front.

Se ele discorda das acusações de corrupção e das críticas ao seu autoritarismo, esta é a hora de colocar as cartas na mesa e mostrar por que os protestos estão errados. É hora de enfrentar as manifestações com dignidade, comprovando que há realmente uma campanha insidiosa contra seu governo.

JB

Os "hitlernautas" estão chegando

Para quem acha que Dani Shwery, Thismir Maia e Carla Dauden são o máximo que a direita “espontânea” conseguiu preparar para mobilizar seus simpatizantes - no contexto do quadro reivindicatório das manifestações de junho - podemos dizer que entre os servidores do Google e da Microsoft e os mouses dos internautas comuns há muito mais coisas que a nossa vã filosofia possa imaginar.

Uma delas, ficou comprovado, é a espionagem norte-americana na rede, denunciada pelo agora foragido Edward Snowden.

O súbito aparecimento do fenômeno dos hitlernautas é outra - e esse é um fato que merece ser analisado. O hitlernauta, não é, na verdade, uma nova espécie no ciberespaço brasileiro. Ele sempre existiu, embora não fosse conhecido por esse nome. A questão é que, antes, os hitlernautas só podiam ser encontrados no seu habitat natural, em reservas quase sempre protegidas, e normalmente produzidas e consultadas apenas por eles mesmos.

Encontravam-se, assim, ao abrigo do navegante comum, como nos sites neonazistas, integralistas, da extrema-direita católica, ou que correspondem, no Brasil, a “espelhos” de certas “organizações” fascistas internacionais.

Nesses espaços, eles ficaram, por anos, alimentando suas frustrações, preparando-se para sair à luz do dia tão logo houvesse uma ocasião mais segura para se apresentarem ao mundo. A oportunidade surgiu no âmbito das passeatas de junho. Afinal, nessas manifestações, cada um podia carregar a mensagem que desejasse - desde que não fosse símbolo de partidos políticos.

Os hitlernautas, além de aparentemente apartidários, são, principalmente, anti-partidários. Assim, resolveram engrossar, a seu modo, a procissão, mesmo sem conseguir indicar, com clareza, rumo ou andor que lhes valesse.

É fácil reconhecer o hitlernauta. Nas ruas, é o “careca”; o de cara coberta por um lenço; pela máscara de um movimento "anarquista"; o que leva coquetel molotov de casa; joga pedra na polícia; agride violentamente o militante do PSDB ou do PSTU que estiver carregando uma bandeira; quebra prédios públicos; arranca semáforos; saqueia lojas; põe fogo em carros da imprensa ou invade o Itamaraty.

Na internet, o hitlernauta é ainda mais fácil de ser identificado. É aquele sujeito que acredita (piamente?) que estamos vivendo a penúltima etapa da execução de um Golpe Comunista no Brasil. E que o Fórum de São Paulo é uma espécie de conclave secreto, destinado a dominar o mundo via implantação, no continente, de uma União das Repúblicas Socialistas da América do Sul.

O hitlernauta é o “anônimo” que nos comentários, na internet, tenta convencer os interlocutores, de que as urnas eletrônicas são manipuladas; de que não existe oposição no Brasil, porque o PSDB é uma linha auxiliar do PT na implantação do stalinismo por aqui; que FHC é fabianista, logo, uma espécie de socialista a serviço da entrega do Brasil aos vermelhos; que a ONU é parte de uma conspiração mundial, e o único jeito de consertar o país é acabar com o voto universal, fechar o Congresso, dissolver os partidos, prender, matar, arrebentar e torturar, por meio de um novo golpe militar.

No dia 10 de julho, os hitlernautas saíram às ruas, sozinhos, pela primeira vez. Segundo o portal Terra, fecharam a rua Pamplona, até a esquina com a Consolação, com a Marcha das Famílias contra o Comunismo, convocada nas últimas duas semanas pela internet.

O portal IG calculou, em cerca de 100 pessoas, o grupo que se reuniu no vão do MASP e marchou, com bandeiras, pedindo intervenção militar, até as imediações do Comando Militar do Sudeste.

No Rio, a convocação conseguiu juntar, frente à Candelária, trinta e poucos manifestantes, em cena em que se viam mais bandeiras e cartazes sobre as escadas do que pessoas para empunhá-los. Ao ver a foto da “manifestação”, muita gente os ridicularizou na internet.

Os primeiros desfiles das SA na República de Weimar também não reuniam mais que 30 pessoas, que carregavam as mesmas suásticas hoje tatuadas na pele dos skinheads presentes à Marcha das famílias contra o Comunismo, em São Paulo, no dia 10. As pessoas normais, ao vê-los desfilando nos parques, com os seus ridículos uniformes, acharam, na década de 30, que os nazistas eram um bando de palhaços. Eles eram palhaços, mas palhaços que provocaram a maior carnificina da História. Sob seus olhos frios, seus gritos carregados de ódio, milhões de inocentes foram torturados, levados às câmaras de gás, e incinerados, em Auschwitz, Maidanek, Birkenau, Dachau, Sachsenhausen – e em dezenas de outros campos de extermínio montados por ordem de Hitler.

Os hitlernautas não devem ser subestimados. É melhor que a sociedade os conheça. A apologia da quebra do estado de direito é crime e deve ser combatida com os rigores da lei. Cabe ao Ministério Público, com a ajuda da Polícia Federal, identificá-los e denunciá-los à Justiça, para que sejam julgados e punidos, em defesa da democracia.

Mauro Santayana

O Brasil, versão gramsciana

Direta "coxinha" totalmente sem noção:  Na avenida Paulista, em São Paulo, manifestantes pedem a volta dos militares ao poder
Movimentos "espontâneos" de classes subalternas, concomitantes com uma crise econômica, segundo Antonio Gramsci, induzem grupos reacionários ao complô contra o governo.

Observo duas reações opostas e erradas, mas de alguma forma convergentes, ao fermento produzido no País pelas manifestações de protesto que têm agitado centenas de praças brasileiras. A dos conservadores e reacionários, bem representados pela “grande imprensa”, foi denunciada pelos setores democráticos e, no fim das contas, facilmente desmascarada. Tinha fôlego curto: simplório demais foi o jogo de cavalgar a indignação juvenil, depois de instintivo rechaço inicial, em razão meramente antigovernamental. E agora o cobertor deles está curto. De qualquer forma, quando vejo a direita executar seu mister habitual, nunca me escandalizo além do mínimo tolerável para minha saúde: egoísta, classista, imoral ou até sujo, sempre repito, seja o papel dela. Seria estranho o contrário.

Mais contraditória e problemática, do ponto de vista dos interesses progressistas, é a reação de certos setores da esquerda, que oscila entre o silêncio embaraçoso e a superficial simpatia, mas que de fato esconde prevenção e se distancia dos movimentos de contestação social. Essa atitude pode fazer o jogo dos adversários.

Ponto de partida da minha reflexão é que os protestos recentes, prescindindo das modalidades, merecem a admiração de todos aqueles que cultivam a esperança em um Brasil melhor, mais democrático e justo. Foi a indignação pela degradação dos hábitos políticos e da convivência civil, a sede de igualdade e novos direitos, que levantou a parte mais generosa dos cidadãos. E isso constitui condição preliminar para qualquer evolução duradoura.

“Descuidar e, pior, desprezar os movimentos ditos ‘espontâneos’, ou seja, renunciar a dar-lhes uma direção consciente, a elevá-los a um patamar superior, inserindo-os na política, pode ter frequentemente consequências muito sérias e graves. Ocorre quase sempre que um movimento ‘espontâneo’ das classes subalternas seja acompanhado por um movimento reacionário da ala direita da classe dominante, por motivos concomitantes: por exemplo, uma crise econômica determina, por um lado, descontentamento nas classes subalternas e movimentos espontâneos de massa, e, por outro, determina complôs de grupos reacionários que exploram o enfraquecimento objetivo do governo para tentar golpes de Estado. 

Entre as causas eficientes desses golpes de Estado deve-se pôr a renúncia dos grupos responsáveis a dar uma direção consciente aos movimentos espontâneos e, portanto, a torná-los um fator político positivo.” Não encontrei palavras mais significativas do que essas de Antonio Gramsci (Cadernos do Cárcere, Volume 3) para expressar meu ponto de vista em relação aos acontecimentos recentes. Longe de mim considerar o pensamento do ilustre sardo como dogma infalível, mas,  mutatis mutandis, me parece que sua reflexão teórica se encaixa perfeitamente na atual realidade brasileira.

O PT, partido que 30 anos atrás se forjou por meio de lutas populares, hoje esquecidas, hesita entre a inércia e as tímidas ações de retaguarda. Pego no contrapé por iniciativa política alheia, tem evidente dificuldade em reconhecer um sujeito social – o movimento – ainda pouco definido e que, sobretudo, escapa dos seus cânones de interpretação política. Muitos intelectuais próximos ao PT, mais realistas do que o rei, competem entre si para encontrar reservas ou distinções que nada constroem na direção “gramsciana”, mas que, expressando desconfiança, só conseguem alienar-se da simpatia dos jovens indignados e seus aliados.

Na pradaria política que se abriu entre a direita sem projeto e a esquerda “tradicional” fechada em seu fortim destaca-se a constante e premonitória iniciativa política de Marina Silva, que não por acaso cresce impetuosamente nas intenções de voto. Verdade se diga, as motivações dos protestos se estabelecem em sua visão como em nenhuma outra e sua rede se oferece, hoje mais do que nunca, como receptora ideal de novas e antigas reivindicações.

Na impossibilidade objetiva de construir sérias reformas, políticas ou estruturais, nesse Parlamento em mãos conservadoras, o PT e seu chefe indiscutível, Lula, tomariam iniciativa construtiva se abrissem finalmente diálogo e colaboração com Marina, em vez de hostilizá-la como o pior dos inimigos, porque sua imprevisível força no novo Parlamento poderia constituir base de inéditas e promissoras alianças.

Carta Capital